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Good morning, Londres!

Primeiro dia de férias… e senti-me realmente invadida pela sensação inebriante de quem deixa para trás dias ocupados e entra em modo de férias. Na realidade não estou ainda de férias pois fiz noite e saí de manhã da clínica, mas quando tirei a farda e saí para as ruas da cidade senti as rugas de tensão a esbaterem-se sendo substituidas apenas pelo esgar face ao sol. S. Pedro mantém-se benevolente e embora tenha enviado uma chuvita ontem ao entardecer, hoje o tempo continua primaveril e a temperatura convida a manga curta e passeios ao ar livre. Embora cansada e com sono tentei ignorar as pernas cansadas e inchadas e não fui logo para casa: fui até Victoria, em busca da Coach Station de onde, no domingo que vem, o autocarro nos levará para Southampton, às 7h da manhã.

Enquanto procurava o local exacto desviava-me dos habitantes que se dirigiam para os empregos e dos turistas que carregavam malas, sacos e mochilas em direcção aos comboios ou aos autocarros, e comecei a pensar no pequeno almoço. Não num full english breakfast nem sequer num continental breakfast mas num croissant daqueles estaladiços, com recheio de chocolate. Quanto mais andava mais pensava nisso, sentido-me a salivar só de me imaginar a trincar as camadas doces e a sentir o chocolate a derreter na boca, quem sabe acompanhado de um sumo de laranja. Este desejo digladiava com a vontade de me enfiar na cama e recuperar algumas horas de sono mas a ideia de férias e de aproveitar o momento ganhou terreno e tentei enganar o cansaço fazendo a vontade à gula.

imageFui ao Le Pain Quotidien perto da estação dos comboios de Victoria, uma boulangerie com produtos principalmente orgânicos e uma das minhas preferidas, e pedi um croissant orgânico e um sumo de laranja sentindo-me a saborear em antecipação. Quando chegou olhei desconsolada para a manteiga: não, não era nada disso que queria. Pensei em pedir compota, fraco substituto do chocolate desejado mas melhor que a manteiga, mas deparei na mesa ao lado com um conjunto de três boiões que costumam estar disponíveis para os clientes e os meus olhos pousaram deliciados num boião de chocolate negro belga, encaixado entre as compotas de morango e ruibarbo, que me fez esquecer a dieta.

Quando os olhos também comem...E num momento supremo de delícia, fiz a vontade ao cérebro e às papilas gustativas e recheei de chocolate o croissant que, ligeiramente oleoso me deixou os dedos engordurados, mas que eu ignorei fazendo uso daquela máxima: “perdoa-se o mal que faz, pelo bem que sabe”. E que bem que soube! As várias camadas estalavam ao serem trincadas e esmagavam o chocolate que deslizava para fora e enchia a boca, sendo depois empurrados para baixo com o sumo de laranja espremido de fresco. E num daqueles momentos de intensa satisfação esqueci as mais de 60 horas de trabalho semanais, as lutas de poder, os egos de quem acha que sabe tudo e a incompetência de quem parece nada saber, e deixei-me envolver pela sensação que a vida entrou em slow motion. Estou de férias e há coisas que convém desfrutar plenamente, por isso bom dia, Londres!, e vamos lá aproveitar…